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terça-feira, 1 de março de 2011

mais um trecho do meu livro

Deus havia pedido que entregasse seu filho em sacrifício, não o primogênito, o segundo ou um outro qualquer, mas sim o unigênito. Mesmo com o coração condoído ele obedeceu e durante a caminhada vinha a lembrança em sua mente das promessas feitas no passado e ficava imaginando como se cumpririam caso o menino fosse sacrificado, será que teria outro filho para receber a herdade prometida, ou Ismael requisitaria para si todos os direitos de primogênito e único filho vivo?

Abraão não conseguia entender a vontade de Deus para a sua vida e a única solução foi trancar-se na solidão da sua alma e seguir adiante sem deixar que seu filho percebesse algo. Seria difícil Isaque não atentar para o peso da angústia que seu pai estava carregando e a princípio não entendeu tamanha tristeza, pois estavam prestes a entregarem um sacrifício a Deus, isto deveria ser motivo de alegria, mas como era submisso continuou a caminhada calado. O silêncio somente fora quebrado quando ele perguntou sobre o animal para o sacrifício, já que não estavam levando nenhum. O cordeiro será provido no momento certo, essa foi a sua resposta de seu pai, confiante na providência Divina.

O velho coração de Abraão chorava angustiado, pois não tinha coragem de revelar a seu filho que ele seria o cordeiro. O difícil não seria nem tanto dizer, mas sim tirar-lhe a vida. Qual seria a reação ao vê-lo estendido inerte sobre o altar? Este pensamento vinha perturbando a sua mente durante o percurso.

O silêncio era tanto que era possível ouvir os pássaros, os ruídos e o barulho das lágrimas internas de Abraão que não foram fortes o suficiente para escorrerem pelos seus olhos.

Mas que espécie de sacrifício racional era este? Tristeza em vez de alegria? Choro no lugar de júbilos? Perdas substituindo ganhos? Derrotas e não vitória? Era isto que receberia por ter posto a mão no arado? Era isto que Deus havia lhe reservado por ter se auto anulado?

Desde a sua chamada, a sua única preocupação fora com a formação e preservação da nação ora prometida a ele.

Sua vida, jornada, trabalho e fé foram essencialmente baseados e firmados nas promessas, não tinha mais vontade própria ou objetivos pessoais.

E o que estava recebendo por toda esta dedicação? Ganharia rótulos de assassino, louco, fanático, extremista entre outros tantos.

Sara o receberia de braços abertos? Teria pelo menos o apoio de sua esposa? E os parentes o taxariam ainda mais, dariam graças, aos seus inúmeros deuses, por Abraão estar tão longe, pois poderia sobrar para alguns deles. Ló certamente diria que Deus havia lhe dado um livramento, após a separação dos dois.

Quantos pensamentos, em fração de poucos segundos. Quantas perdas materiais e espirituais.

Seria melhor se rebelar e fugir com Isaque e Sara para bem longe de Deus? Mas para onde?

Ele sabia que isto era impossível, então o jeito era se entregar cem por cento ao chamado sacrifício racional.

Foram várias as perguntas sem respostas durante a caminhada, porém as únicas duas que não foram feitas eram exatamente as que tinham as respostas prontas.

Deus poderia ter perguntado a Isaque se seria possível um pai ou uma mãe se esquecer de um filho. A resposta seria imediata e direta, pois seria possível isto acontecer, porém ele jamais seria esquecido ou abandonado, mesmo naquela situação.

A outra pergunta poderia ser de Isaque ao seu pai, pois ao vê-lo triste, poderia imaginar que tal situação fosse devido ao não cumprimento das promessas ou pela demora por parte de Deus, por isto está me levando para que eu administre o sacrifício? Será que ele está muito fraco espiritualmente e está precisando de ajuda?

Abraão estava sim precisando de ajuda para provar a sua fidelidade ao Deus todo poderoso.

Ao chegarem ao local do sacrifício, Abraão diante do altar ergueu o cutelo, mas neste instante ouviu a voz do anjo do Senhor dizendo que não finalizasse o sacrifício, já que ele havia provado que temia a Deus.

Este momento contrastava com o anterior, pois há poucos minutos atrás Abraão chorava ante a atitude que teria que tomar e agora, abraçado a seu filho, sorria alegre pelo livramento que ambos receberam, aumentando com isso a sua fé ainda mais, já que desde o princípio cria que Deus faria algo para tirá-lo daquela angústia.

Jamais conseguiríamos imaginar a intensa alegria sentida pelos dois naquele momento, um sentimento que somente ambos poderiam descrever, em face a tensão vivida durante o trajeto e os cruciais minutos que antecederam o sacrifício.

Ter saído da terra de seus pais, para depois ser presenteado com um filho na velhice, que anos mais tarde fora o instrumento usado para provar a sua fidelidade, eram a base da segurança de Abraão para aguardar o cumprimento das promessas, acreditando agora mais do que nunca no grande plano que Deus tinha com a sua vida e de toda a sua família.

Já avançado em idade Abraão morre, sem poder contemplar o nascimento de seu neto Jacó, outro que juntamente com os seus doze filhos foram usados por Deus para dar segmento ao seu plano de criação de Israel, a nação santa e escolhida.

Extraído do livro: Criado, eleito, perdido e resgatado – Autor: Ailton Silva - em fase de revisão.

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