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terça-feira, 3 de abril de 2012

A loucura dos gregos. Enganaram a muitos, mas Josefo não!


"Não quero examinar as leis dos outros povos; nós nos contentamos em observar as nossas, sem censurar as dos outros; e nem tampouco zombamos delas, nem maldizemos aquilo que essas nações consideram como deuses, porque nosso legislador no-lo proibiu, pelo respeito devido a tudo o que traz o nome de Deus.

Mas eu não poderia não responder às coisas de que nos acusam tão falsamente, embora pareça que este escrito não seja necessário para refutá-las, porque já o foram por tantas outras. Quem são os mais estimados entre os gregos por sua sabedoria, que não tenham repreendido os poetas mais célebres e particularmente os legisladores, por terem feito os povos crer nessa pluralidade de deuses, nascidos uns dos outros, em tantas maneiras diferentes e que faziam chegar a tal número como bem lhes parecia e lhes davam, como aos animais, diversos lugares para morada, uns sobre a terra, outros no mar e queriam que os mais antigos estivessem acorrentados no inferno.

Quanto aos que eles diziam habitar no céu davam-lhes um pai de nome, mas um tirano de fato, contra o qual sua mulher, o irmão e a filha nascida do cérebro, tinham conspirado para expulsá-lo do trono como ele tinha expulsado o pai.

Assim os gregos que sobrepujavam aos outros em sabedoria não podiam zombar dessas extravagantes e de que os que as apregoavam tão ousadamente queriam fazer crer que esses deuses, uns eram jovens, outros na flor da idade, e outros, velhos; que havia toda a espécie de ofícios e profissões entre eles; um era ferreiro, outro era tecelão, outro, guerreiro, que combatia contra os homens, outro tocador de harpa, outro, que era hábil no manejo do arco, interessando- se pelas questões dos homens, vinha combater com eles, recebia ferimentos, que suportava com impaciência. Mas, o que é ainda horrível, eles atribuem a esses pretensos deuses e deusas amores e licenciosidades, coisas ridículas de se imaginar, de que as divindades sejam capazes.

Admitem que aquele deus, que eles representam, tão poderoso, senhor de todos os outros, depois de ter abusado de mulheres, não teve o poder de impedir que elas ficassem prisioneiras e que fossem afogadas com os filhos que tivera delas, embora sua morte o fizesse derramar lágrimas, porque ele era obrigado a ceder às imposições do destino. Eis ações certamente muito louváveis para deuses, cometer com tanta imprudência adultérios no céu, que demonstravam invejar eles os que eram surpreendidos em ações tão infames: e que não podiam fazer os deuses menores, vendo que esse Júpiter que eles reverenciavam como rei era tão arrebatado por essa brutal paixão?

Que direi também do que eles demonstravam crer, que alguns desses deuses conduziam os rebanhos dos homens e os serviam com outras coisas, para disso tirar proveito; outros estavam encerrados numa prisão como criminosos e amarrados com correntes de ferro? Outros não têm receio de representar essas falsas divindades como capazes de temor, de furor, de fraude e de todas as outras paixões mais condenáveis.

Embora representando-os tão imperfeitos, eles tinham persuadido os povos a lhes oferecerem sacrifícios; julgavam a uns benfeitores, a outros, malfeitores, e procediam para com eles como o fariam com os homens, pois procuravam torná-los favoráveis por meio de presentes, na persuasão de que de outro modo ter-lhes-iam feito muito mal".

Extraído: História dos hebreus. De Abraão à queda de Jerusalém.


Por: Ailton da Silva

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