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sábado, 14 de setembro de 2013

119 - Vestes rasgadas - sinal para prisão

Quem em sã consciência poderia imaginar um homem sendo conduzido para uma prisão sem esboçar algum tipo de reação? Pelo menos os gritos de: “sou inocente, não fiz nada, quero meus advogados”, seria normal ouvirmos, o que não dizer então da promessa de retorno, as ditas, conhecidas e tão temidas juras de morte e vingança, as quais na maioria das vezes são cumpridas na integra.

Paulo e Silas foram encaminhados para a prisão tão somente por terem participado da libertação de uma jovem possessa (At 16.18), que sofria com o tormento provocado por espíritos maus e com os aproveitadores que utilizavam sua vida como trampolim financeiro para manterem suas vidas pecaminosas.

Ora, se Paulo se declarava um imitador de Cristo e se aconselhava a igreja a se portar da mesma forma (1 Co 11.1; Fp 3.17) e por ser instruído em todo conhecimento da Lei e dos Profetas (At 22.3), o normal seria que as lembranças das profecias messiânicas estivessem gravadas em sua mente, principalmente a que dizia respeito ao caminhar tranquilo de um cordeiro em direção ao matadouro (Is 53.7), passando pela porta do Gado ou das Ovelhas (Ne 3.1), a menor de todas as portas de Jerusalém, justamente por ter sido construído para a passagem destes animais e não para homens[1].

Aquela porta que se encontrava próxima ao Templo, junto ao tanque de Betesda (Jo 5.2). Na reconstrução da Cidade Santa, liderada por Neemias, ela foi a primeira a ser reformada/refeita, pois se tratava de uma figura da ação de Cristo em relação à humanidade perdida (Jo 10.7-9).

Pois bem, se Paulo mantinha atualizada em sua mente estas profecias, é bem provável que ansiava pelo cumprimento delas em sua vida, guardada as devidas proporções, diga-se de passagem, haja vista, estar no pleno curso de seu ministério, o qual fora caracterizado pelo forte desejo de ser um imitador de Cristo, não na trajetória, nascimento, morte, ressurreição e assumpção, mas nas atitudes, nos comportamentos, nas reações diante da adversidade, portanto não poderia oferecer resistência à voz de prisão decretada em Filipos durante sua primeira estadia (At 16.23).

Somente o cristianismo é capaz de proporcionar isto ao homem. Equilíbrio puro diante de uma dificuldade e esperança no livramento ou no consolo. Virtudes estas que nenhuma outra religião, filosofia ou pensamento humano é capaz de providenciar aos seus seguidores.

1) AS PRISÕES – IMEDIATAMENTE APÓS O RASGAR DAS TÚNICAS
a) A túnica de José rasgada – sinal para prisão
José, um dos patriarcas de Israel, também foi enviado ao matadouro (Gn 37.13-14) e diante de seus tosquiadores também permaneceu mudo, não reagiu, não gritou e tampouco ameaçou seus irmãos, após o “fechamento da venda”. Naquele dia seus irmãos ficaram satisfeitos, conseguiram cobrir “a cota do mês”. Que venda, vinte moedas de pratas, duas para cada um. Foram dez contra um, justamente os filhos de Léia, Bila e Zilpa, pois não acredito que Benjamim estivesse com eles, devido a idade e por ser também filho da mesma mãe que José, a única mulher que o pai realmente amara deste o inicio.

Não considero os poucos, mas angustiantes momentos que José passou dentro daquela cova como dor de prisão, pelo contrário, pois ele imaginava que mais cedo ou mais tarde seus irmãos o tirariam e pediriam desculpas. Então se cumpriria parte de seus sonhos[2] e o caminhar como escravo, em algemas e acorrentado, apenas o tipificou como prisioneiro, que mantinha alguma esperança de arrependimento de seus irmãos. Quem sabe eles não correriam atrás de seus parentes distantes midianitas (Gn 25.1-2) e pediriam o cancelamento da venda?

Agora dentro de uma prisão, enjaulado, entre grades, alheio ao nascer e por do sol, sem poder pisar na areia quente egípcia, sem contemplar a delta do Nilo, a região mais próspera da nação, a que seria presenteada à seu pai anos mais tarde pelo próprio faraó (Gn 47.6), que cena triste. Que decepção? Tudo deu errado em sua vida? Não teve sorte? O que mais poderia acontecer de ruim? Dependia somente dele. Estava mal, poderia piorar, bastava uma murmuração.

Mas sua prisão veio somente depois de uma longa caminhada, que se iniciou após sua túnica colorida ser rasgada e manchada com sangue de animal, o lindo presente de seu pai, motivo inicial das desavenças e ciúmes dos irmãos. Rasgaram suas vestes e abriram caminho para a prisão. Aquela túnica jamais desceria com ele ao Egito, deveria ficar ali em Canaã, por isto foi entregue ao pai para que acreditasse na morte do filho preferido.

José não perdeu o controle quando foi jogado na cova, não se desesperou quando viu sua túnica rasgada, não se afligiu quando deu inicio a caminhada como escravo. Não temos noticia de rebeldia durante o tempo em que ficou trabalhando como servo de Potifar e muito menos deu trabalho dentro da prisão, pelo contrário, com seu comportamento exemplar ganhou a confiança do carcereiro mor (Gn 39.20-23).

O equilíbrio diante de uma adversidade é uma ação divina, mas que depende de uma ação humana, infelizmente, pois José, mesmo o Senhor sendo com ele (Gn 39.2-3; 20-23), poderia ter posto tudo a perder e não teria, lá na frente, a possibilidade de ver os sonhos se cumprindo em sua vida, tão logo acordasse daqueles seus terríveis pesadelos[3].

Ali na solidão da cova, na caminhada, na casa de Potifar ou na prisão uma grande batalha se travou em sua mente, justamente no campo onde podemos ganhar ou perder, mas ele se mostrou integro, venceu e nos ensinou como devemos nos portar diante da adversidade.

Como recompensa deste equilíbrio, um dia José, pela manhã ouviu: “prisioneiro hebraico José, Faraó quer falar com você”. Esta foi a última vez que ele foi chamado daquela forma, pois no outro dia já recebeu outro tratamento, foi chamado de senhor José, senhor vice-faraó.

Faraó queira falar com ele, de inicio não entendeu. Não tinha advogado, os amigos eram ingratos, não se lembravam dele, a família estava há quilômetros de distância. O que a maior autoridade do Egito queria com ele?

Era um pedido de socorro, o Egito lhe pedia socorro, alias as nações pediam socorro ao ex-presidiário José, mas antes disto era necessária uma transformação, uma mudança radical de vida (Gn 41.14), pois ninguém podia se apresentar diante do grande faraó de qualquer maneira, com ele era mais ou menos assim: “NÃO VENHA COMO ESTÁS, pelo amor de seu Deus”.

Também foi visto um equilíbrio na vida de José, pós-promoção, pois sua primeira decisão, já em um luxuoso quarto palaciano, foi baseada no futuro, queria salvar a nação da escassez, não pensou em seus irmãos, tampouco em vingança. E quando teve a oportunidade de se vingar, novamente não pensou no passado, socorreu seus irmãos e providenciou o melhor para eles em terra egípcia.

A mente de José nunca esteve vazia, sempre esteve ocupada, pensava nos sonhos[4], nas providências, na presença constante de Deus (Gn 39.2-3; 20-23), caso contrário teria ele promovido uma rebelião, pensando na fuga ou então como se vingaria de seus irmãos. Tal como Paulo ele pensou nas coisas do alto, nas mansões celestiais, no prêmio da soberana vocação (Fp 3.13-14) e principalmente no resgate definitivo, não para ser levado a Canaã terrena, mas para a celestial, a derradeira morada.

José assombrou o mundo com seu comportamento e nos ensinou muito, pois sua estadia na cova, sua caminhada como escravo, seus préstimos como servo e o seu equilíbrio dentro de uma prisão, foram ações que estimula a todos a permanecerem na presença do Deus que vela pelas nossas vidas e que está sempre pronto a nos socorrer.

b) As vestes de Paulo e Silas rasgadas – sinal para prisão
Após serem usado como instrumentos para a libertação daquela jovem, Paulo e Silas imaginavam que, pelo menos os familiares e amigos se renderiam a Jesus ou que, pelo menos, dariam crédito à Palavra. O que eles temiam era que fossem novamente tomados como deuses humanos pelos moradores da cidade, tal como ocorrera na primeira viagem com o próprio Paulo e Barnabé (At 14.13-18), mas a reação da população, no mínimo, faria muitos de nós perdermos o equilíbrio ou nos motivaria a corrermos desesperados para longe da cidade para nunca mais retornarmos.

Logo formou-se uma revolta popular contra Paulo e Silas, e os juízes ordenaram que tirassem a roupa (grifo meu) deles e batessem com varas. De golpe em golpe as varas iam ferindo as costas nuas deles, fazendo brotar o sangue; e depois disto eles foram jogados no cárcere. O carcereiro foi ameaçado de morte se eles escapassem”. (At 16.22-23 – Biblia Viva)

“E a multidão se levantou unida contra eles, e os magistrados, rasgando-lhes as vestes, (grifo meu) mandaram açoitá-los com varas. E, havendo-lhes dado muitos açoites, os lançaram na prisão, mandando ao carcereiro que os guardasse com segurança. (At 16.22-23 – ARC)

“A multidão ajuntou-se contra Paulo e Silas, e os magistrados ordenaram que se lhes tirassem as roupas (grifo meu) e fossem acoitados. Depois de serem serveramente açoitados, foram lançados na prisão. O carcereiro recebeu instrução para vigiá-los com cuidado”. (At 16.22-23 – NVI)

“Ai uma multidão se auntou para atacar Paulo e Silas. As autoridade mandaram que tirassem as roupas (grifo meu) deles e os surrassem com varas. Depois de baterem muito neles, as autoridade jogaram os dois na cadeia e deram ordens ao carcereiro para guardá-los com toda a segurança” (At 16.22-23 – NTLH)

Assim como ocorrera com José acontecia agora com Paulo e Silas, pois a prisão não foi imediata, houve uma caminhada em direção ao matadouro, aos tosquiadores. As vestes foram arrancadas, rasgadas, sinal evidente do descontentamento e ciúmes da multidão e foram jogadas ao lado para provarem o castigo à aqueles que se atrevessem a proclamar outra religião que não a vista e permitida na cidade, mesmo que viesse com sinais, prodígios e maravilhas. Alias, logo mais a noite os filipenses veriam o agir de Deus. A multidão que auxiliou e os jogou na prisão seria a mesma que pela manhã, boquiaberta testemunharia a transformação que Jesus faria na vida dos presos que ouviriam os louvores e orações dos missionários.

E olha que José tinha caminhado em direção a seus irmãos somente para verificar a situação deles, se precisavam de algo, para ver se estava tudo bem, ele não tinha outra intenção. Paulo e Silas da mesma forma estavam naquela cidade somente para apresentarem a Palavra de consolação, o Evangelho que salva, transforma e que proporciona equilíbrio diante da adversidade. O primeiro ganhou a confiança do carcereiro mor no Egito e o segundo ganhou o carcereiro e família para Jesus, livrando-o da morte certa e lhe proporcionando a vida nova em Cristo.

Tudo isto foi fruto da oportunidade que o primeiro grupo de louvor e intercessão da igreja primitiva teve naquele culto. Louvaram com alegria, com a alma, não deixaram o interior, a tristeza, a lacuna da fé, as dores interferirem nos trabalhos daquela noite. O louvor deles chegou ao céu e atingiu o alvo. Foi uma rápida decisão, pois não poderiam murmurar, reclamar ou tentar uma fuga, mesmo porque estavam fracos. Optaram pela oração e louvor, sinais evidentes de equilíbrio.

Paulo também assombrou o mundo com seu comportamento dentro da prisão, juntamente com seu companheiro. Eles não ofereceram resistência na entrada. Portando as boas novas observaram o ambiente, os olhares dos presos, futuros ouvintes. Creio que um olhou para o outro e sem palavras entenderam tudo foi necessário para que chegassem naquele lugar. Por isto louvaram com alegria e oraram com fé, para que todos ouvissem mesmo.

Se os moradores de Filipos imaginassem que o abalo nas estruturas do inferno seria menor, certamente teriam deixado Paulo e Silas cumprirem a missão sossegados, ou no mínimo, os expulsariam da cidade ou ignorariam a dupla de missionários. Com os irmãos de José ocorreu o inverso, pois se tivessem imaginado que a vida de todos mudaria a partir do cumprimento do sonho do irmão, certamente teriam se prostrado muito antes do sofrimento com a escassez de mantimento na terra. A vida da família de Jacó mudou de uma hora para outra, pois saíram do sofrimento de Canaã e se dirigiram para a prosperidade vista no Egito.

José estava no trono e os irmãos na lona, momento ideal para se vingar, mas não aproveitou a oportunidade para isto. Ele tinha princípios, equilíbrio e sabia muito bem atender um pedido de socorro. Aqueles que planejaram o mal, um dia comeram nas mãos do irmão.

Quando o assunto for equilíbrio diante da adversidade, tenhamos José, Paulo e Silas como exemplos, os imitemos. Aprendemos, recebemos, ouvimos e principalmente vimos algo de bom e edificante na vida deles, então façamos como eles.

Referências:
Bíblia de estudo aplicação pessoal - BAP (ARC). CPAD, 2003.

Bíblia de Estudo Temas em Concordância. Nova Versão Internacional (NVI). Rio de Janeiro. Editora Central Gospel, 2008

Bíblia Sagrada: Nova tradução na linguagem de hoje (NTLH). Barueri (SP). Sociedade Bíblica do Brasil, 2000.

Bíblia Sagrada – Harpa Cristã. Baureri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2003.

A Bíblia Viva. Edição para todos. Associação Religios Editora Mundo Cristão



[1] Esta porta era destinada a passagem de animais para o sacríficio e não para homens, a não ser que algum passasse por ela de joelhos, se arrastando ou com a boca no pó. Na época era quase impossível que isto viesse a acontecer. Esta porta foi exclusiva para Jesus.
[2] Ou se cumpriria parte de seus sonhos ou então teria inicio o seu longo pesadelo.
[3] Jose teve mais pesadelos que sonhos.
[4] Ele não havia esquecido os sonhos, tanto que ao reconhecer seus irmãos este foi o primeiro pensamento que veio em sua mente (Gn 42.9).

Por: Ailton da Silva - Ano V

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