Páginas

sábado, 21 de setembro de 2013

120 - Quem bate esquece e quem apanha também

Alguns dos furiosos filipenses, que participaram da revolta popular levantada contra a ação dos pregadores Paulo e Silas, rangiam os dentes de tal maneira que devem ter jurado atitudes ainda mais severas contra os missionários no decorrer daqueles dias. Imaginaram se reunindo novamente para contemplarem a execução, após as animalescas torturas dos “corretos e inatingíveis” juízes inquisitores que certamente existiam, os perfeitos da época, os anti-bruxos, os anti-leitura, os queimadores de literatura sacra, os adversários do crescimento pedagógico espiritual, tal como visto na idade escura da humanidade, manchada pelo sangue de inocentes que somente desejavam cumprir o “ide da grande comissão”.

O que poderiam pensar aqueles pobres homens cegos de Filipos? O que poderiam fazer de mal aos enviados de Deus que estavam ali somente para apresentar-lhes a Graça? Será que imaginavam que as furiosas caras e algumas mascaras poderiam esconder o vazio que exisitia no interior de cada um? Pura ilusão. Eles estavam exteriorizando o amor e zelo pela religião local, talvez a maior da época, a mais antiga, a que se declarava erroneamente como primeira e única, talvez a que batia no peito e declarava: “os filipenses tem a literatura sacra devido a nós (nós – religião)”, ou aqueles que mais entusiasmados diziam: “se não fosse a nossa religião (filosofia barata e rídicula de vida, mistura de misticismo e mitologia greco-romana, traduzindo, uma verdadeira bagunça que perdura nos dias atuais) ninguém teria literatura”. Conversa fiada de quem não tem argumentos para incentivar o povo a buscar na Palavra entendimento e razão para existência e salvação, aliás um emaranhado de paredes brancas (At 23.3).

Quem poderia tocar em Paulo? Até então ninguém o havia conseguido, pois:
  • A cilada de alguns judeus que não se conformaram com sua conversão (At 9.24-25) não foi capaz de assustá-lo;
  • As caras feias de alguns gregos que não puderam com ele em termos de conhecimento e ousadia na Palavra (At 9.29), também não o assustou;
  • As pedradas em Listra (At 14.19), que o deixou com aparência de morto, apenas para os olhos de seus algozes, pois estava muito vivo e muito bem cuidado;
  • Na volta de sua terceira viagem missionária, já em Jerusalém e diante de seus acusadores e juízes, ninguém teve coragem de setenciá-lo (At 21.3;), nem os integrantes falíveis do Sinédrio, tampouco a parede branqueda, o Sumo Sacerdote, muito menos Félix, Festo, Agripa quem dirá então os soldados no momento do naufrágio quando desejaram matar todos os prisioneiros (At 27.42).

Ninguém teve coragem de colocar as mãos naquele homem, não apareceu homem suficiente forte e corajoso para sentenciá-lo, tal como Moisés que havia fugido do Egito após seu “crime”, pois a sua volta foi motivada e garantida por um “salvo-conduto” vindo do céu, ele pisou em terras egípcias e ninguém o acusou do passado, sequer lembraram[1]. Da mesma forma, agora os judeus, como estavam limitados por algo superior, enviaram o acusado para repetir o seu apelo ao semi-deus morto César, o que desejou em vida ser maior que seu rival grego Alexandre, ambos muito pequenos diante de Deus, o verdadeiro e Grande.

Então entraram em cena os filipenses (selá – momento para respirar fundo, uma pausa para imaginar a audácia daqueles homens que um dia imaginaram serem capazes de colocar um fim no ministério apostólico de Paulo, respirei fundo ao imaginar esta cena). A população revoltada de Filipos não passava de um amontoado de fanfarrões. Se ajuntarem em bando, rasgar a vestes de dois símbolos de humildade e contentamento (cfe At 9.16) isto foi muito fácil, quanta valentia demonstrada por aqueles covardes, que um dia estariam congregados, por isto que Deus não leva em conta o tempo de ignorância, prova disto foi Paulo, que ouviu admirado durante seus primeiros dias de conversão: “Este não é o mesmo homem que perseguia tão ferozmente os seguidores de Jesus em Jerusalém?” (At 9.21 – Biblia Viva). Se aconteceu isto com ele, por que não poderia acontecer o mesmo com os filipenses? Ora se um dia ele bateu e esqueceu, que dirá aqueles vazios habitantes e futuros membros da igreja de Filipos.

E foi justamente isto o que aconteceu, pois no outro dia pela manhã os filipenses não se lembravam mais do que haviam feito no dia anterior, mas qual foi o motivo deste esquecimento? O que faz um homem esquecer os atos contrários à vontade de Deus?

A multidão que ajudara a rasgar suas vestes e que os empurraram prisão a dentro, ficou boaquiaberta, no dia seguinte, diante dos fatos ocorridos â noite. Homens louvando e orando a Deus em meio a dores e em ambiente hostil. Prisioneiros, sem valia, que não fugiram mesmo diante de portas abertas. Homens sem escrúpulos que ficaram congelados diante do louvor verdadeiro e “oração forte”, oração forte mesmo, saída do interior, da alma, da dor, aliás “os mais belos hinos, poesias” e orações (acréscimo meu) foram escritos em momentos de tribulação ou no mínimo estranhos e inaceitáveis para muitos de nós, que nos diga uma de nossas pioneiras em uma de suas inspiradíssimas composições[2].

Diante da porta da prisão, os filipenses viram os missionários contentes, satisfeitos e não entenderam a reação, mas o que deixou a população confusa, de verdade, foi quando ouviram um preso lá do fundo gritar: “irmãos da 1ª igreja Evangélica de Filipos, Paulo e Silas podem voltar mais vezes aqui para louvarem e pregarem a Palavras? O amém foi ensurdecedor”, verdadeiro e não como estes que dizemos quando somos “obrigados” a bradarmos somente para agradar intinerantes que não suportam uma varada apenas pelas igrejas que visitam. Tampouco imagino este preso repetindo a pergunta, tal como alguns imitadores, quando saudam a igreja cansada, triste e que precisa da Palavra fortalecedora. Estes não entendem que os congregados estão precisando e não oferecendo[3]. Ela se apresenta para receber de Deus e não para agradar egos humanos.

Eu concebo a ideia de alguns dos filipenses revoltosos ter dobrado seu joelho ali mesmo e ter aceitado Jesus como Salvador, para isto Paulo e Silas foram enviados, para ganharem almas através da instrumentalidade de suas vidas, outros confusos talvez disseram: “perdoa-nos Deus, não sabíamos o que estávamos fazendo ontem”.

Este contentamento dos missionários, proporcionado pelo cristianismo verdadeiro, sem variantes e imposições “constantinais[4]”, é uma virtude, se torna um comando para novas ações. Esta alegria e certeza não pode ser encontada “em dinheiro, posses, poder, prestígio, relacionamentos, empregos” e religião, mas sim e somente na pessoa bendita de Jesus.

Paulo não se desesperou ante as privações, não manipulou pessoas ou seus obreiros, não explorou as igrejas por ele fundadas e cuidadas e não cobrou delas sustento, em nenhum momento. Sempre se mostrou confiante nas providências de Deus.

Em seu estado de contentamento mostrava-se satisfeito com o pouco, não se preocupava ou se assustava com as circunstâncias. João Batista havia ensinado isto a alguns dizendo: “e contentem-se com o seu salário” (Lc 3.14 – Biblia Viva). O mesmo conselho foi recebido por Timóteo: “Portanto, devemos sentir-nos bem satisfeitos sem dinheiro, se tivermos alimento e roupa suficiente” (1 Tim 6.8 – Biblia Viva).

Ele pensava principalmente no bem estar dos outros e olha que estes outros careciam muito desta sua preocupação. Foram dois os avisos de Paulo enviados à igreja em Filipos:
  • Não estou dizendo isto porque estava precisando, pois aprendi a viver alegremente, tenha muito ou pouco” (Fp 4.11 – Biblia Viva);
  • Eu apanhei e esqueci, vocês bateram, ajudaram ou consentiram, esqueçam, livrem-se desta culpa. Eu posso dizer isto, pois passei pelo mesmo, bati, ajudei e consenti, mas esqueci (At 8.1).

Referências:
Bíblia de estudo aplicação pessoal - BAP (ARC). CPAD, 2003.

Bíblia de Estudo Temas em Concordância. Nova Versão Internacional (NVI). Rio de Janeiro. Editora Central Gospel, 2008

Bíblia Sagrada: Nova tradução na linguagem de hoje (NTLH). Barueri (SP). Sociedade Bíblica do Brasil, 2000.

Bíblia Sagrada – Harpa Cristã. Baureri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2003.

A Bíblia Viva. Edição para todos. Associação Religios Editora Mundo Cristão.

MACARTHUR, John. Novo Testamento. Comentários expositivos Filipenses. 1939.



[1] Deus não leva em conta o tempo de ignorância, outro exemplo clássico foi o de Moisés.
[2] Conforme hino 126 da Harpa Cristã, traduzido em palavras por Frida Vingren, missionária de verdade.
[3] Não comungo este tipo de cumprimento: “eu saúdo a igreja com a paz do Senhor! EU SAÚDO A IGREJA COM A PAZ DO SENHOR! Agora sim estão vivos, povo de Deus é forte”. E o cidadão fica todo satisfeito por que a igreja obedeceu ao seu chamado. Nesta hora eu queria ter um potente aparelho de som para gritar bem alto a ponto de deixar o solicitante surdo, era isto que você queria, toma.
[4] O impositor e impostor Constantino, o mentiroso imperador que se fingiu de cristão para empurrar “guela abaixo” da igreja suas inovações, modismos e ideias idolatras. Neste caso o perseguidor virou perseguido como houvera acontecido com Saulo, o Paulo.

Por: Ailton da Silva - Ano V

Nenhum comentário:

Postar um comentário