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terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Corrida de São Silvestre - não preencheu meu vazio.


Em 2009, diante de uma situação dificil de minha vida, resolvi me aventurar em algo que certamente jamais voltarei a repetir.

Resolvi correr a corrida de São Silvestre e anos mais tarde comecei a refletir em alguns acontecimentos durante e depois da corrida. Resolvi relatar os fatos e tentei aplicá-los na vida espiritual. Tirando o lado místico e idólatra da corrida creio que deu para extrair alguns ensinamentos daquele evento.




MINHA EXPERIÊNCIA NA SÃO SILVESTRE (2009)

A) LARGADA
Demorei uns quinze minutos para ultrapassar a linha de inicio da corrida. Eram mais de vinte mil participantes se espremendo, sonhando com a chegada sem ter ao menos iniciado a carreira. Um desespero tomou conta, pois via que a corrida já havia começado, mas não conseguia chegar até a faixa onde começaria a marcar o tempo. Uma estranha alegria tomou conta de mim em meio ao desespero.

Aplicação: Demorei vinte e dois anos para iniciar a minha corrida espiritual. Como foi difícil o começo. Parecia que não saia do lugar, parecia que não estava ocorrendo nenhuma mudança na minha vida, mas estava sim, algo aconteceu, somente não percebi. Era melhor correr ao passo do gado, devagar.

B) DESÂNIMO
Quando passei pela linha que demarcava o inicio da corrida, ainda havia muitas pessoas entre os espectadores que gritavam, uns incentivando: “vamos, força, coragem vocês conseguem” e outros desanimando: “vocês são loucos, vão morrer, vão embora”.

Aplicação: No início da corrida espiritual também nos deparamos com a mesma situação, haja vista, que encontramos pessoas para nos incentivar: “Deus é contigo, força, busque, ore e confie”, mas do outro lado certamente existem aqueles que sempre dizem: “vocês são loucos, fanáticos, vão morrer. Salvação não existe, o inferno é aqui” e coisas do gênero para desanimar os que abraçam a fé.

C) A DISPARADA
Sai como um foguete no inicio da corrida, logo no primeiro quilometro me senti senhor da situação, não me preocupei com o cansaço ou com as dificuldades que fatalmente apareceriam. No segundo quilometro a situação ficou ainda melhor, pois se tratava de uma descida, onde tinha um cemitério, mas foi justamente neste trecho que quase cai, embalado que estava, pisei em falso em um obstáculo.

Aplicação: No inicio da nossa caminhada espiritual saímos às pressas correndo a mil por hora, com a vontade de ganhar o mundo, é como se estivéssemos em uma grande ladeira, quem segura? Mas o cuidado tem que ser redobrado neste período, pois a correria inicial pode ser fatídica. Lembram do cemitério que passei quando estava descendo? Quantos morrem logo no inicio da corrida espiritual? Saem em disparada e não percebem o perigo ao derredor.

D) A CALMARIA
Depois da descida adentrei na parte central velha da cidade, a região da República. Ali consegui dar uma respirada, um alivio e deu até para sentir uma diferença no trajeto. Ruas planas deu a sensação de calmaria.

Aplicação: Depois da correria inicial, quando percebemos a impossibilidade de atingirmos o mundo todo, entramos em um período de reflexão, um amadurecimento, uma mudança na rotina. Neste período sentimos a diferença, a sensação de calmaria é notória.

E) O PRIMEIRO SINAL DE CANSAÇO
No “minhocão”, Elevado Costa e Silva, comecei a sentir a dureza da corrida. A subida é notada, a vibração do viaduto assusta e quando olhei para trás vi uma grande multidão. Nos prédios ao lado os moradores gritavam: “Voltem para casa, pois a corrida já terminou. O vencedor foi o fulano e a novela já começou”, isto sem mencionar os gritos aos fundos: “vai Corinthians”.

Aplicação: Ao primeiro sinal de cansaço de nossa parte o inimigo tenta se aproveitar da situação. Perigos, vibrações, intempéries, mudanças radicais no caminho, subidas, descidas, multidão, apertos, gritos de desânimo entre outros. Assim como aquele grande viaduto parecia tremer, às vezes sentimos nossas forças sendo abaladas. Mesmo vibrando o viaduto suportou todo o peso da multidão, tal como a igreja, que mesmo sob pressão ainda é capaz de abrigar todos os seus membros.

F) DIGA NÃO AS OFERTAS
Aquela altura da caminhada procurei companheiros para juntos terminarmos a corrida. Os mais experientes procurava incentivar uns aos outros e aconselhava-nos a não aceitarmos ofertas de água das pessoas que estavam nas calçadas. Segundo eles era deveríamos pegar água somente nos postos de apoio oficial. Era muito arriscado aceitar qualquer oferta ou ajuda de estranhos.

Aplicação: É bom termos companheiros para andarmos juntos. Nunca sabemos qual será nossa reação diante da adversidade. As vezes vacilamos e aceitamos qualquer ofertinha durante a caminhada, mesmo parecendo boas ou de Deus, devemos ter o cuidado e analisá-la, por isto a presença de um companheiro é importante, já que com sua experiência podemos ser auxiliados.

G) O MEIO DA CAMINHADA
Eu estava no sétimo quilometro e senti a canseira. Olhei para os lados e via todos correndo, mesmo em dificuldades, por isto me senti envergonhado e decidi continuar. Avistei uma viatura da policia e me veio um pensamento: “vou fingir que estou mal e eles irão me socorrer”. Fiz a conta bem rápido e cheguei a seguinte conclusão: “Estou no sétimo quilometro, faltam oito. Se resolver parar, terei que voltar os sete quilômetros para trás ou seguir andando os oito que faltam. É melhor continuar, mesmo cansado”.

APLICAÇÃO: Às vezes o cansaço aparece na metade do caminho, já que no início por estarmos a pleno vapor não sentimos nada. Nesta fase da vida espiritual é mais fácil sentir o cansaço, é o momento de refletirmos, avaliarmos os prós e os contra e continuar, pois lembramos de onde fomos tirados e de onde estamos e para onde iremos, tal como imaginei na corrida, quando cheguei a conclusão que já havia percorrido sete e que faltavam oito, não adiantava parar, ainda mais quando percebi que muitos ainda tinham um vigor assustador. Além do mais sempre aparecerá alguém para nos ajudar e incentivar.

H) PIOR MOMENTO ANTES DO PRÊMIO
Sempre ouvir falar sobre a subida da Brigadeiro e comecei a imaginar como seria. No início estranhei e achei que não era tudo o que falavam, dava para subir tranquilamente. Estava somente no inicio da rua, ainda estava mansa, mas aos poucos comecei a entender as dificuldades dos atletas.

No meio da subida senti câimbras nas pernas e pensei em parar, porém continuei, faltava pouco mais de um quilometro. Algumas pessoas gritavam incentivando-nos: “continuem, falta pouco, continuem”, mas teve uma mulher que fazia o contrário, ela gritava para uma das atletas: “sua fracote, se fosse eu já teria terminado”. Fique olhando aquilo e não aceitava a situação. Ao meu estava um jovem corredor que disse: “a Brigadeiro eu subo assim”. Ele ficou de cabeça para baixo, andou alguns metros e depois voltou ao normal. Estava fazendo graças e não percebeu que poderia se machucar. Quando terminei aquela subida entrei na avenida Paulista, últimos quinhentos metros, respirei aliviado quando contemplei a linha de chegada. Bem ao fundo ouviu o locutor oficial: “atenção corredores, o limite para chegada é até as 19:15 horas”. Eram poucos mais de 19 horas. Cheguei ao final e não tinha ninguém me esperando, nem mesmo aqueles que estavam tentando desanimar os corredores logo na largada. Cruzei a linha de chegada e fiz questão de ficar alguns minutos esperando o restante dos corredores que estavam atrás de mim. Foram muitos ainda que cruzaram depois de mim.


Aplicação: Às vezes ficamos imaginando como será o final de nossa carreira e não percebemos que também é um período duro e difícil da vida espiritual, pois se não vigiarmos podemos perder tudo o que construímos, tal como o jovem corredor que se imaginou em condições de correr de cabeça para baixo, poderia ter se machucado e fatalmente não cruzaria a linha de chegada. Neste período da caminhada o cansaço aparece, mas é hora de continuarmos, mesmo diante das zombarias, das palavras de desanimo e das dores que nos provocam ou que procuramos, que tentam nos tirar o foco da chegada. O bom é corrermos e vigiarmos para chegarmos inteiro ou com dores para então declararmos: “Combati o bom combate, acabei a carreira e guardei a fé”.

Por: Ailton da Silva - 5 anos (Ide por todo mundo)

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